quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Inflação e juros altos

Há muitos anos venho contestando a fantasia econômica criada pelas correntes "teóricas" que dominam a chamada Ciência Econômica majoritária na grande imprensa e até nos meios acadêmicos.

Na minha Tese para o posto de Professor Titular da Universidade Federal Fluminense me dediquei exaustivamente a demonstração dos erros que conduziram a criação desta corrente de pensamento sobre o título de "Os Elos Perdidos de uma Teoria Elegante".

Em outras oportunidades insisti de que não há nenhuma comprovação teórica razoavelmente explicitada que pudesse abonar essa Tese. Citei inclusive mais recentemente a afirmação do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz de que esta Tese estaria apoiada numa Teoria "rala".

Mais dramática ainda é o fato de que não há nenhuma base empírica para essa afirmação, todos os estudos sérios sobre a relação entre crescimento econômico e inflação comprovam exatamente o contrário: os países de alta taxa de crescimento e juros baixo apresentam inflação baixa.

Já chamei atenção para o fato de que um clima de terror intelectual comandado por Organizações Internacionais, Grande Imprensa e setores acadêmicos ligados às classes dominantes, particularmente ao setor financeiro impõem sobre tudo a políticos mal informados que terminam estigmatizados pelos seus povos vitimas de suas políticas orientadas para o apoio e a proteção ao 1% dos seres "humanos" que possuem 47% das rendas geradas pelos outros 99%, segundo dados do Banco Crédit Suisse.

Recorri inclusive em muitas oportunidades a afirmação de outro Prêmio Nobel Paul Krugman de considerar totalmente fracassado o "mainstream". Estou surpreendido com a adesão a este processo de desmoralização da Ciência Econômica do Presidente quase perpétuo do Federal Researv Bourd dos EUA Alan Greespan.

Ele foi um aluno comportado desta aventura intelectual durante os 20 anos em que regeu a economia norte americana e mundial. Lembro-me muito bem das suas previsões ano a ano do necessário fracasso do crescimento chinês que conduziria a uma inflação colossal em cada próximo ano.

O fracasso dessas previsões muito parecida com outras prestigiosas Instituições como o FMI e o Banco Mundial não desmoralizava a "Ciência Econômica" praticada por esse senhor.

Vejamos agora diante dos fatos terríveis ocorridos a partir de 2008 suas descobertas teóricas:


“Ao que tudo indica, a crise financeira representou uma crise existencial para as previsões econômicas. Dei início à minha investigação pós-crise, que culminou neste livro, em um esforço para entender como pudemos errar tanto – e que lição podemos tirar do que aconteceu. Em sua origem, portanto, este é um livro sobre como prever a natureza humana, o que acreditamos saber a respeito do futuro e o que consideramos que deva ser feito em relação a ele.” O Mapa e o Território: Risco, natureza humana e o futuro das previsões. Editora Portfolio-Penguin, São Paulo, 2013, p. 10.

No mesmo livro ele nos surpreende com certas considerações pretensamente teóricas:


“Como sempre, apesar de nosso desejo em acreditar no contrário, a análise econômica é uma disciplina probabilística. O grau de certeza com que as chamadas ciências exatas são capazes de identificar as medições do mundo físico parece estar fora do alcance das disciplinas econômicas. Mas jamais se deixará de fazer previsões, independentemente dos equívocos que vierem a ser cometidos. É uma necessidade arraigada na natureza humana. Quanto mais pudermos antecipar o curso dos eventos no mundo em que vivemos, mais preparados estaremos para reagir a esses eventos de uma maneira que possa melhorar nossas vidas.” (GREENSPAN, P. 10-11, 2013).

Seu ceticismo chegou inclusive aos instrumentos "matemáticos" utilizados de maneira discutível pelos dirigentes da economia estadounidense e mundial. Acompanhemos suas próprias palavras:


“Fiquei atraído pela sofisticação da então recente economia matemática quando era aluno de graduação da Universidade Columbia, no início da década de 1950. Dois de meus professores, Jacob Wolfowitz e Abraham Wald, foram pioneiros na estatística matemática. Mas meu fascínio precoce foi abrandado, com o passar dos anos, por um ceticismo crescente quanto à sua relevância, em um mundo no qual o espírito animal, aparentemente impossível de modelar, é um fator tão crítico nos resultados econômicos.” (GREENSPAN, P. 11-12, 2013).  

Não se sabe porque o Banco Central do Brasil criou um modelo para calcular a taxa de juros que partia da taxa de juros mundial (libor: hoje desmoralizada pelas revelações da maneira corrupta e irresponsável com que eram realizadas) a qual agregava a taxa de risco do Brasil e outras invenções subjetivas (os números matemáticos serviam para ocultar a irresponsabilidade desses cálculos subjetivos).

Quando os seríssimos Federal Reserve dos EUA, FMI, Banco Mundial, Libor, etc, foram obrigados a baixar a taxa de juros dos EUA a 0%, acompanhando o 0% do Japão e a diminuição das taxas européias sempre mais altas que as americanas para tentar atrair capital desse país, surpreendentemente o Banco Central do Brasil desapareceu com o seu modelinho matemático de determinar taxa de juros.

Mais inexplicavelmente (será realmente inexplicável?) vemos o Banco Central exigir o aumento da taxa de juros em 2012 quando a economia mundial se caracterizava por forte ameaça deflacionária e queda da taxa de juros. Como podemos aceitar a seriedade dessas "autoridades financeiras" ?

Não bastam as revelações sobre as empresas encarregadas de avaliar as políticas econômicas e a situação dos vários países que tem levado muitas delas a quebra, não basta descobrir a maneira como se estabeleceram e se estabelecem as taxas de juros no Mundo (e particularmente a mestra de todas, a Libor), não basta buscar compreender as razões econômicas que levam a tomada de decisão dos vários Bancos Centrais, particularmente o brasileiro, não basta a ausência total de transparência das decisões tomadas pelo Conselho Monetário Nacional, composto por no máximo 12 membros (ver abaixo). Estranhamente não vemos entre esses membros autoridade teórica e capacidade técnica superior aos importantes estudos que questionam as Teses por eles defendidos. Será que o povo brasileiro terá que entregar todo o poder de manipulação de toda a moeda nacional física ou fictícia a esses 12 indivíduos ?  Qual é o custo de suas decisões para o povo brasileiro ? O pagamento pelo Estado brasileiro de 10% do PIB e 40% do que ele arrecada para os bancos garantirem o controle da inflação do país. Será que custa tão caro evitar a inflação ? Será que temos que trabalhar e entregar a maior parte do nosso trabalho para sustentar os "poupadores" deste país ? Qual o objetivo declarado de diminuir os investimentos ? Isto é, entregar as poupanças deste país aos que não querem utiliza-las, mas sim viver delas sem nada fazer ou realizar ou investir ? Qual teórico da Economia defendeu esta Tese ?

Membros do CMN
Ministro da Fazenda Guido Mantega
Ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão Miriam Aparecida Belchior
Presidente do Banco Central do Brasil Alexandre Antonio Tombini


Membros da Comoc
Presidente do Banco Central do Brasil Alexandre Antonio Tombini
Presidente da Comissão de Valores Mobiliários  Leonardo Porciúncula Gomes Pereira
Secretária-Executiva do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão
Eva Maria Cella Dal Chiavon
Secretário-Executivo do Ministério da Fazenda Paulo Rogério Caffarelli
Secretário de Política Econômica do Ministério
da Fazenda
Márcio Holland de Brito
Secretário do Tesouro Nacional do Ministério
da Fazenda
Arno Hugo Augustin Filho
Diretores do Banco Central do Brasil *nota: segundo a lei, são "quatro Diretores do Banco Central do Brasil, indicados pelo seu Presidente". Como esta indicação é alterada de acordo com a pauta das reuniões, todos os diretores do Bacen tornam-se membros potenciais da Comoc.


Como veem os leitores deste blog é extremamente grave a entrega do nosso país a um grupo de pessoas que agem em nome da não intervenção da Política nas decisões econômicas. O capital financeiro é enfático: só para nós deve se tomar decisões financeiras neste país, fora os políticos, fora o povo, fora qualquer intervenção nas nossas decisões. (na verdade o Banco Central consulta os banqueiros do país oficialmente antes de tomar suas decisões e os meios de comunicação insistem de que elas estejam ajustadas ao que pensam os mercados). Ora, os mercados vivem das decisões estatais ao seu favor e evidentemente do seu poder de corrupção. Não há nenhuma razão para acreditarmos que seu poder possa existir sem esta forte intervenção estatal a seu favor.

Diante dessas reflexões vejo com muita simpatia o Artigo publicado pelo excelente blog de Celso Fonseca sobre Independência Sul Americana. Ele adverte inclusive à Presidenta da República e seus apoiadores sobre o perigo que representa uma política macroeconômica dirigida por 12 senhores depois de consultar o "mercado", publicar essas pesquisas no seu boletim Focus e a entrega, portanto, da independência do Banco Central aos desígnios dos poderosos membros do sistema financeiro nacional e internacional (já que muitos deles são representantes de bancos internacionais).

O aprofundamento da crise gerada pela política macroeconômica a partir da reversão da queda da taxa de juros nos conduz a uma situação de estagflação, soma de estagnação com inflação, e pode portanto levar a derrota das forças do Governo atual o que seria extremamente grave para o país já que dificilmente os vencedores seriam forças políticas mais avançadas a favor de nosso povo.

O artigo a seguir explica muito claramente a gravidade da situação:

http://independenciasulamericana.com.br/2014/02/fracassa-juro-alto-contra-inflacao/





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