quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Manifesto em memória de Carlos Marighella


EM MEMÓRIA DE CARLOS MARIGHELLA


Carlos Marighella tombou na noite de 4 de novembro de 1969, em São Paulo, numa emboscada chefiada pelo mais notório torturador do regime militar. Revolucionário destemido, morreu lutando pela democracia, pela soberania nacional e pela justiça social.


Da juventude rebelde, como estudante de Engenharia, em Salvador, às brutais torturas sofridas nos cárceres do Estado Novo; da militância partidária disciplinada, às poesias exaltando a liberdade; da firme intervenção parlamentar como deputado comunista na Constituinte de 1946, à convocação para a resistência armada, toda a sua vida esteve pautada por um compromisso inabalável com as lutas do nosso povo.


Decorridos quarenta anos, deixamos para trás o período do medo e do terror. A Constituição Cidadã de 1988 garantiu a plenitude do sistema representativo, concluindo uma longa luta de resistência ao regime ditatorial. Nesta caminhada histórica, os mais diferentes credos, partidos, movimentos e instituições somaram forças.


O Brasil rompeu o século 21 assumindo novos desafios. Prepara-se para realizar sua vocação histórica para a soberania, para a liberdade e para a superação das inúmeras iniqüidades ainda existentes. Por outros caminhos e novos calendários, abre-se a possibilidade real do nosso País realizar o sonho que custou a vida de Marighella e de inúmeros outros heróis da resistência. Garantida a nossa liberdade institucional, agora precisamos conquistar a igualdade econômica e social, verdadeiros pilares da democracia.


A América Latina está superando um longo e penoso ciclo histórico onde ocupou o lugar de quintal da superpotência imperial. Mais uma vez, estratégias distintas se combinam e se complementam para conquistar um mesmo anseio histórico: independência, soberania, distribuição das riquezas, crescimento econômico, respeito aos direitos indígenas, reforma agrária, ampla participação política da cidadania. Os velhos coronéis do mandonismo, responsáveis pelas chacinas e pelos massacres impunes em cada canto do nosso continente, estão sendo varridos pela história e seu lugar está sendo ocupado por representantes da liberdade, como Bolívar, Martí, Sandino, Guevara e Salvador Allende.


E o nome de Carlos Marighella está inscrito nessa honrosa galeria de libertadores. A passagem dos quarenta anos do seu assassinato coincide com um momento inteiramente novo da vida nacional. A secular submissão está sendo substituída pelos sentimentos revolucionários de esperança, confiança no futuro, determinação para enfrentar todos os privilégios e erradicar todas as formas de dominação.


O novo está emergindo, mas ainda enfrenta tenaz resistência das forças reacionárias e conservadoras que não se deixam alijar do poder. Presentes em todos os níveis dos três poderes da República, estas forças conspiram contra os avanços democráticos. Votam contra os direitos sociais. Criminalizam movimentos populares e garantem impunidade aos criminosos de colarinho branco. Continuam chacinando lideranças indígenas e militantes da luta pela terra. Desqualificam qualquer agenda ambiental. Atacam com virulência os programas de combate à fome. Proferem sentenças eivadas de preconceito contra segmentos sociais vulneráveis. Ressuscitam teses racistas para combater as ações afirmativas. Usam os seus jornais, televisões e rádios para pregar o enfraquecimento do Estado. Querem o retorno dos tempos em que o deus mercado era adorado como o organizador supremo da Nação.


Não admitimos retrocessos. Nem ao passado recente do neoliberalismo e do alinhamento com a política externa norte-americana, nem aos sombrios tempos da ditadura, que a duras penas conseguimos superar.


A homenagem que prestamos a Carlos Marighella soma-se à nossa reivindicação de que sejam apuradas, com rigor, todas as violações dos Direitos Humanos ocorridas nos vinte e um anos de ditadura. Já não é mais possível interditar o debate retardando o necessário ajuste dos brasileiros com a sua história. Exigimos a abertura de todos os arquivos e a divulgação pública de todas as informações sobre os crimes, bem como sobre a identidade dos torturadores e assassinos, seus mandantes e seus financiadores.


Precisamos enfrentar as forças reacionárias e conservadoras que defendem como legítima uma lei de auto-anistia que a ditadura impôs, em 1979, sob chantagens e ameaças. Sustentando a legalidade de leis que foram impostas pela força das baionetas, ignoram que um regime nascido da violação frontal da Constituição padece, desde o nascimento, de qualquer legitimidade. E procuram encobrir que eram ilegais todas as leis de um regime ilegal.


Sentindo-se ameaçadas, estas forças renegam as serenas formulações e sentenças da ONU e da OEA indicando que as torturas constituem crime contra a própria humanidade, não sendo passíveis de anistia, indulto ou prescrição. E se esforçam para encobrir que, no preâmbulo da Declaração Universal que a ONU formulou, em 10 de dezembro de 1948, está reafirmado com todas as letras o direito dos povos recorrerem à rebelião contra a tirania e a opressão.


Por tudo isso, celebrar a memória de Carlos Marighella, nestes quarenta anos que nos separam da sua covarde execução, é reafirmar o compromisso com a marcha do Brasil e da Nuestra America rumo à realização da nossa vocação histórica para a liberdade, para a igualdade social e para a solidariedade entre os povos.


Celebrando a memória de Carlos Marighella, abrimos o diálogo com as novas gerações garantindo-lhes o resgate da verdade histórica. Reverenciando seu nome e sua luta, afirmamos nosso desejo de que nunca mais a violência dos opressores possa se realimentar da impunidade. Carlos Marighella está vivo na nossa memória e nas nossas lutas.


Brasil, 4 de novembro de 2009.


Antonio Candido

Fabio konder Comparato, jurista, USP
Fernando Morais, escritor
João Capibaribe, ex- governador do Amapá, e senador
Emir Sader, sociólogo, presidente da Clacso
João Pedro Stedile, ativista do MST
Heloisa Fernandes, socióloga, professora da ENFF, e USP
Frei Betto, escritor
Leonardo Boff, teólogo, escritor
Clara Charf
Silvio Tendler, cineasta
Fabiana Ferreira, poeta
Ana De Holanda, cantora e compositora
Paulo Vanucchi, cientista político.
Eliana Rolemberg, socióloga
Sérgio Muniz - cineasta
Jair Krischke, militante dos direitos humanos.
José Joffily. cineasta
Jorge Durán, cineasta
Manfredo Caldas - Documentarista
Carlos Marés - Procurador Geral do Estado do Paraná, Professor PUCPR
Marcio Curi - cineasta e produtor DF
Ronaldo Duque - cineasta
Luiz Carlos Lacerda [WINDOWS-1252?]– cineasta
Maria Victoria Benevides , sociologa, professora da USP
Janete Capiberibe, deputada federal PSB- Amapa
Marcelo de Barros Souza, benedetino, teólogo e assessor de movimentos populares.
Ivan Pinheiro, secretario geral do PCB
Beth Carvalho, cantora e compositora
José Sérgio Gabrielle de Azevedo, presidente da Petrobras
Artur Henrique da Silva, presidente nacional da CUT
Paulo Betti, ator
Hildegard Angel, jornalista
José Dirceu, advogado, ex Ministro-Chefe da Casa Civil do governo Lula
Vera de Fátima Vieira - Jornalista
Wagner Tiso, musico
Eliseu Gabriel - vereador PSB-SP
Samuel Mac Dowell de Figueiredo, advogado
Marco Antônio Rodrigues Barbosa, advogado
Pedro Casaldaliga, bispo emerito, e poeta
Chico de Oliveira, sociologo
Rebeca de Souza e Silva, professora dra.da UNIFESP, campus Vila Clementino
Antonio Cechin, irmão marista, catequista
Nilcéa Freire - professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
João Miguel, ator
Jackson Lago , governador cassado do maranhao, e PDT-MA
Italo Cardoso, vereador PT-SP
Maria Matilde Leone - Jornalista
Jun Nakabayashi - Sociólogo
Paulo Cannabrava - Associação Brasileira da Propriedade Intelectual dos Jornalistas Profissionais
Margarida Genevois - Socióloga
Paulo Abrão , presidente da Comissão de Anistia
Elza Ferreia Lobo, educadora e jornalista
Idibal de Almeida Pivetta, advogado de presos politico
Graciela Rodrigues, artista plástica
Ausonia Favorido Donato - Educadora
Heleieth Iara Bongiovani Saffioti – Socióloga

Eliete Ferrer - professora

Hosana Ramos – Odontóloga

Aristóteles Zakynthinos – Corretor

Geraldo Moreira Prado – professor

Guilem Rodrigues da Silva - juiz
Margot Queiroz - socióloga

Francisco Roberval Mendes - professor e historiador

Emir Aparecida Martins Paulino – advogada

Delson Plácido Teixeira – Jornalista

Miriam Abramovay - socióloga e pesquisadora

Pedro Albuquerque - advogado e sociólogo

Karla Sant’Anna

Fernando Silva – ator

Edival Nunes Cajá - Sociólogo e Presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa de Pernambuco

Eros Marte – psiquiatra

Roberto de Barros Pereira - engenheiro

Theotonio Dos Santos - economista e sociólogo


4 comentários:

damnatio memoriae disse...

La traduzione in italiano del Manifesto in memoria di Carlos Marighella è pubblicata qui:
http://lapattumieradellastoria.blogspot.com/2009/11/carlos-marighella.html

Anônimo disse...

COMO EU DEVO PROCEDER QUANDO UMA PESSOA QUE ASSINOU O MANIFESTO EM MEMÓRIA DE CARLOS MARIGHELLA; COMPROVADAMENTE PARTICIPOU DA PERSEGUIÇÃO E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS INDIVIDUAIS NO BRASIL.
GRATO


LUIZ ROBERTO PEREIRA
luizrobertoal@uol.com.br

Anônimo disse...

resposta:

denuncia-lo. se for verdade será execrado.
Theotonio

Autres Brésils disse...

Traduçao em francês aqui :

http://www.autresbresils.net/spip.php?article1908

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